Afro Sonorous Brazil: Interview with Filipe Mimoso and Mayara Ferrão

Afro Sonorous Brazil: Interview with Filipe Mimoso and Mayara Ferrão

by Juci Reis, Filipe Mimoso, Mayara Ferrão and Carolina Vélez Muñiz

This interview is available in English, Portuguese and Spanish. Scroll down for the Portuguese and Spanish versions.

Here is a written interview between the founders of Siga Gana, Filipe Mimoso and Mayara Ferrão, and ESS Spring Curatorial Fellow Carolina Vélez Muñiz. Filipe and Mayara presented an audiovisual set in Carolina’s Quarantine Concert, Vivências, which you can see here.

For some previous context, here is a brief excerpt from a text about Afrobrazilian experimental music by Juci Reis:

“Afro-sonorous Brazil is an organic circuit connected to ancestral matrices, which is reinvented through the hybrid relation between body, voice, and instrument. This encounter, independent from a classic structure of Western music, searches for a phenomenological state to manifest creative representations between subjects and their cultural matrices which go beyond the experimental as a primary sense, and which expands towards what could be justified as a collective experience of knowledge construction.

The history of Brazilian music itself demonstrates this hybrid sense in a profusion of reinvented sonorous phenomena. Samba, for example, follows the variations within dance, voice, and instruments, which equally exist in sync to create a condition of personification between subject and sonorous object, like the case of the cuíca, an instrument of African origin, which attempts to imitate human voice in the form of growling or moaning through its tones; a rhythmic ostinato is established then between voice and instrument. This capacity to synthetize and interact, gives sound a diverse meaning which we can consider a trans-sound in constant reinvention, which directly depends on a state of being experienced with the present, through involuntary acts, with no calculation, nor disposition to linearity.”

You can read the text in its entirety here.

Tell me about your connection with music… 

We were born, live, and work in Bahia, a place where music happens organically in the everyday. We are a naturally musical town. Music is present everywhere: in the streets, in our houses, in the form of our bodies and beings. Music in our state is the living transmutation of the African diaspora, as well as the influence of the indigenous Brazilian communities. The reference of popular rhythms was key in the formation of Mayara’s musical perspective. She grew up in the center of the city, in the root of pagode, samba, funk, and other rhythms native to the Brazilian North. Filipe grew up in Arembepe, an originally indigenous territory. It’s a coastal town far from urban centers, more than 50 km away from Salvador. It was there that he discovered himself as an artist/musician. His experience was far removed from the metropolitan and, instead, very close to nature and, in consequence, to spirituality. This made him search in music for  a place of connection and a very particular expression. While he assimilates the Afro-diasporic and contemporary musicality, he brings along textures and layers which are connected to this experience, which doesn’t just include current popular rhythms, but also looks to find this connection between past and future, among the material and intangible.

What are the Afrobahian influences in your creations? 

Our artistic researches and conceptualizations are directly connected to Afrobrazilian culture. Be it through music or image, we are directly influenced by the popular rhythms of Bahia, by the imaginary which circulates through the Salvadoran streets, by the aesthetic and musicality of the Terreiros de Candomblé (the Afrobrazilian religion to which we belong) and, especially, by our own experiences as Black artists and creators.

Some Afrobahian artists which inspire us are Mateus Aleluia, Os Tincoãs, and Gilberto Gil.

I feel like your music label sprouted from collaborating with other artists. Tell me why it is important for you to work in a collaborative way. What can we build creatively and together?

GANA emerged from the meeting point of two artists and the need to create an independent space of production which encompassed all of our ideas and concerns, transforming the lack of structure in creative solutions. An essential part of the activities of the creative label/studio is precisely to make possible collaborations and promote the exchange of information between contemporary artists.

We truly believe in the creative potential of producing together. We also understand that collaborating adds a lot of our personal process and that all contributions are welcomed in the realization of a piece.

How do you invent new realities? What do you want to represent in them?

I think that artmaking is a very powerful way to contribute to the construction of new possibilities of belonging. It is the way we found to build new narratives; to help signal a path and, at the same time, soften our own walk. In Brazil, we are living in an extremely difficult and cruel political scene. Because of this, creating Afrocentric art is strengthening better and possible imaginaries.

Tell me about the set that you presented for Vivências…

We built a free musical experimentation in our home about our research. In a way, the musicality reflects what we were living at that moment: an internal search, an introspection, a need to submerge into our own processes. Filipe performed and Mayara captured it with images.

Thank you so much, I loved the concert <3

Thank you, we loved this experience and are grateful for the invitation!



PORTUGUES

by Juci Reis, Filipe Mimoso, Mayara Ferrão and Carolina Vélez Muñiz

Aqui está uma entrevista escrita entre os fundadores do selo/estúdio criativo Siga Gana, Filipe Mimoso e Mayara Ferrão, e a atual Curadora Curatorial do ESS, Carolina Vélez Muñiz. Filipe e Mayara apresentou um set audiovisual no Quarantine Concert organizado pela Carolina, Vivências, que pode ver aqui.

Para ter um melhor contexto, aqui está um breve texto sobre a música experimental negra do Brasil de Juci Reis:

“O Brasil afro-sonoro é um circuito orgânico conectado a matrizes ancestrais que se reinventa pela relação híbrida entre corpo, voz e instrumento. Este encontro, independentemente de uma estrutura clássica da música ocidental, busca um estado fenomenológico para manifestar as representações criativas dos sujeitos e suas matrizes culturais que vão além do experimental como um sentido primário, e que se expande para o que poderia ser justificado como uma experiência coletiva de construção do conhecimento.


A própria história da música brasileira demonstra esse sentido híbrido em uma profusão de fenômenos sonoros reinventados. O samba, por exemplo, segue as variações entre dança, voz e instrumentos, que também existem em sincronia para criar uma condição de personificação entre sujeito e objeto sonoro, como é o caso da cuíca, instrumento de origem africano, que tenta imitar a voz humana na forma de grunhidos ou gemidos em seus tons; um ostinato rítmico é assim estabelecido entre a voz e o instrumento. Essa capacidade de sintetizar e interagir, confere ao som um significado variado que podemos considerar um trans-som em constante reinvenção, que depende diretamente de um estado de experiência com o presente, por meio de atos involuntários, sem cálculo, ou disposição para a linearidade. "

Você pode ler o texto completo em inglês e espanhol aqui.


Falem um pouco do seu contato com a música…

Nascemos, moramos e trabalhamos na Bahia, lugar onde a música acontece de forma orgânica no cotidiano. Somos um povo naturalmente musical. A música se faz presente em todos os lugares, nas ruas, nas casas, no jeito do corpo e no jeito de ser. A música no nosso estado é um desdobramento vivo da diáspora africana, assim como a influência dos povos nativos brasileiros. A influência dos ritmos populares foram fundamentais na formação da perspectiva musical de Mayara, que cresceu no centro da cidade, no embalo do pagode, samba, funk, e de ritmos oriundos do norte do Brasil. Filipe cresceu em Arembepe, território originalmente indigena, vilarejo litorâneo distante dos centros urbanos, a mais de 50 km de Salvador, e é lá que se descobre artista\músico. A vivência mais afastada do caos metropolitano e sempre muito próxima a natureza e consequentemente, a espiritualidade, o fez buscar na música um lugar de conexão e expressão muito particular, ao mesmo tempo que assimila a musicalidade afro diaspórica contemporânea, traz consigo texturas e camadas que estão conectadas a essa vivência, que não inclui somente os ritmos populares atuais mas busca encontrar essa conexão entre passado e futuro, entre o material e o intangível. 

Quais são as influências afro-baianas em suas criações?

Nossas pesquisas e concepções artísticas estão diretamente conectadas à cultura afro-brasileira, seja através da música, ou imagem, nos influenciamos diretamente pelos ritmos populares baianos, pelo imaginário que circunda as ruas de Salvador, pela estética e musicalidade dos terreiros de candomblé (religião afro-brasileira da qual pertencemos) e, principalmente, pelas nossas próprias vivências enquanto artistas e criadores negros.

Alguns artistas afro-baianos que nos inspiram são Mateus Aleluia, Os Tincoãs e Gilberto Gil.

Eu sinto que o selo musical nasce da colaboração com outros artistas, me diga por que é importante para você trabalhar de forma colaborativa? O que se pode construir de forma criativa?

A GANA surge a partir do encontro de dois artistas e da necessidade de se criar um espaço de produção artística independente que abrigasse todas as nossas ideias e inquietações, transformando a falta de estrutura em soluções criativas. Parte essencial das atividades do selo/ estúdio criativo é justamente possibilitar encontros e fomentar o intercâmbio de informações entre artistas contemporâneos. 

Acreditamos muito no potencial criativo que é produzir em conjunto, entendemos que agrega muito ao nosso processo pessoal e que toda contribuição é bem vinda para a realização de uma obra.

Como vocês inventam as novas realidades? Que querem representar?

Acho que produzir arte é uma maneira muito potente de contribuir para a construção de novas possibilidades, é a forma que encontramos para construir novas narrativas, de ajudar a apontar um caminho e, ao mesmo tempo, suavizar o nosso próprio caminhar. Vivemos em um cenário político extremamente difícil e cruel no Brasil, portanto criar arte afrocentrada é fortalecer imaginários melhores e possíveis.

Falem um pouco sobre o set apresentado na última quinta...

Construímos uma experimentação musical livre em nossa casa, em torno das nossas pesquisas. A musicalidade reflete de certo modo o que estamos vivemos nesse momento, a busca interna, a introspecção, a necessidade de imergir dentro dos nossos próprios processos. Filipe performou, Mayara fez toda a captação de imagem.

Muito obrigada e eu amei o concerto <3 

Muito obrigado, adoramos a experiência e gratidão pelo convite!!


ESPANOL


por Juci Reis, Filipe Mimoso, Mayara Ferrão y Carolina Vélez Muñiz


Aquí encontrarán una entrevista escrita entre los fundadores del estudio/sello creativo Siga Gana, Filipe Mimoso y Mayara Ferrão, y la actual Becaria Curatorial del ESS Carolina Vélez Muñiz. Filipe y Mayara presentaron un set audiovisual en el Quarantine Concert organizado por Carolina, Vivências. Lo puedes ver aquí.

Para tener contexto previo, aquí hay un texto breve acerca de la música negra experimental de Brasil escrito por Juci Reis: 

“Brasil afro-sonoro es un circuito orgánico conectado a matrices ancestrales que se reinventa a través de la relación híbrida entre cuerpo, voz e instrumento. Este encuentro, independientemente de una estructura clásica de la música occidental, busca un estado fenomenológico para manifestar las representaciones creativas de los sujetos y sus matrices culturales que van más allá de lo experimental como sentido primario, y que se expande hacia lo que podría justificarse como una experiencia colectiva de construcción de saberes. 

La propia historia de la música brasileña demuestra este sentido híbrido en una profusión de fenómenos sonoros reinventados. La samba, por ejemplo, sigue las variaciones entre danza, voz e instrumentos, que existen igualmente en sincronía para crear una condición de personificación entre sujeto y objeto sonoro, como es el caso de la cuíca, instrumento de origen africano, que intenta imitar la voz humana en forma de gruñidos o gemidos por medio de sus tonos; se establece así un ostinato rítmico entre voz e instrumento. Esta capacidad de sintetizar e interactuar, dota al sonido de un significado variado que podemos considerar un trans-sonido en constante reinvención, que depende directamente de un estado de vivencia con el presente, a través de actos involuntarios, sin cálculo, ni disposición a la linealidad.”

Puedes leer el texto completo aquí.


Cuéntenme un poco de su conexión con la música...

Nacimos, vivimos y trabajamos en Bahía, un lugar donde la música acontece de forma orgánica en el cotidiano. Somos un pueblo naturalmente musical. La música está presente en todos los lugares, las calles, las casas, en la forma del cuerpo y del ser. La música en nuestro estado es una transmutación viva de la diáspora africana, así como la influencia de los pueblos indígenas brasileños. La referencia de los ritmos populares fue fundamental en la formación de la perspectiva musical de Mayara, quien creció en el centro de la ciudad, en la raíz del pagode, la samba, el funk, y de ritmos oriundos del norte brasileño. Filipe creció en Arembepe, territorio originalmente indígena, un pueblo costero alejado de los centros urbanos, a más de 50 km de Salvador, y es allí donde se descubre como artista/músico. Su experiencia alejada del caos metropolitano y siempre muy cercana a la naturaleza y, en consecuencia, a la espiritualidad, le hizo buscar en la música un lugar de conexión y expresión muy particular. Al mismo tiempo que él asimila la musicalidad afrodiaspórica contemporánea, trae consigo texturas y capas que están conectadas a esta experiencia, que no solamente incluye ritmos populares actuales, sino que busca encontrar esa conexión entre pasado y futuro, entre lo material y lo intangible.

¿Cuáles son las influencias afrobahianas en sus creaciones?

Nuestras investigaciones y conceptualizaciones artísticas están directamente conectadas a la cultura afrobrasileña. Ya sea a través de la música o la imágen, nos influenciamos directamente por los ritmos populares de Bahía, por el imaginario que circula por las calles de Salvador, por la estética y musicalidad de los terreiros de candomblé (la religión afrobrasileña a la que pertenecemos) y, principalmente, por nuestras propias experiencias como artistas y creadores negros. 

Algunos artistas afrobahianos que nos inspiran son Mateus Aleluia, Os Tincoãs y Gilberto Gil.

Siento que su sello musical nace de la colaboración con otros artistas. Cuéntenme por qué es importante para ustedes trabajar de forma colaborativa. ¿Qué se puede construir de forma creativa en conjunto?

GANA surge a partir del encuentro de dos artistas y la necesidad de crear un espacio de producción artística independiente que abarcara todas nuestras ideas e inquietudes, transformando la falta de estructura en soluciones creativas. Parte esencial de las actividades del sello/estudio creativo es justamente hacer posibles encuentros y fomentar el intercambio de información entre artistas contemporáneos.

Creemos mucho en el potencial creativo que es producir en conjunto. También entendemos que agrega mucho a nuestro proceso personal y que toda contribución es bienvenida para la realización de una obra.

¿Cómo inventan nuevas realidades? ¿Qué quieren representar en ellas?

Pienso que producir arte es una manera muy poderosa de contribuir a la construcción de nuevas posibilidades de existir. Es la forma que encontramos para construir nuevas narrativas; de ayudar a señalar un camino y, al mismo tiempo, allanar nuestro propio andar. En Brasil, vivimos en un escenario político extremadamente difícil y cruel, por lo que crear arte afrocéntrico es fortalecer mejores y posibles imaginarios.

Cuéntenme un poco sobre el set que presentaron el jueves pasado…

Construímos una experimentación musical libre en nuestro hogar acerca de nuestras investigaciones. La musicalidad refleja de cierto modo lo que estábamos viviendo en ese momento: una búsqueda interna, una introspección, una necesidad de sumergirnos dentro de nuestros propios procesos. Filipe performeó y Mayara captó todas las imágenes.

Muchas gracias, amé el concierto <3

Muchas gracias, ¡amamos esta experiencia y estamos agradecidos por la invitación!








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